Ausências.

Ausências.

O que me custa é a perda de tempo. O engano inicial em que é inevitável cair até percebermos que não temos, de todo, afinidade suficiente com aquela pessoa para a amarmos. Perceber isto exige tempo, exige esforço, exige que nos deixemos ir e que nos dêmos ao outro de alguma forma.

O tempo perdido. Que nem sempre o é, mas que mais tarde ou mais cedo será invariavelmente apelidado como tal. O tempo que demora chegar à mesma conclusão de sempre: somos seres insaciáveis e incompreendidos e a luz que atrai e seduz é exatamente a mesma que assusta e afugenta.

Mas de tudo isto a incompreensão é rainha. Sentir que alma após alma, corpo após corpo, o entendimento não acontece. A ausência de atenção e dedicação, tão essenciais à compreensão do outro, manifesta-se cada vez com maior intensidade com o passar do tempo, até que desistimos. Desistimos porque achamos que não temos que ensinar alguém a agradar-nos. Não somos donos da verdade e aquela pessoa apenas está errada para nós, é perfeitamente possível que ela seja a pessoa ideal para outra pessoa. É sempre isto que acabamos por pensar.

O problema está em nós. O problema somos nós. Pessoas com ideais vindos dos clássicos literários, com certos princípios incorruptíveis e que não estão dispostas a abdicar da liberdade em prol de alguma coisa que não prometa o maior dos valores: a Paz.

Pessoas para quem a liberdade é cara. A liberdade que permite viver em vários mundos sem pertencer a nenhum, que permite ter um calendário com asas que se vai preenchendo ao sabor do vento. A liberdade do silêncio nas noites em que a última coisa que queremos é falar. A liberdade conquista-nos as entranhas e habitua-nos a não querer ninguém. A liberdade compensa a ausência de um beijo, porque a ausência de um beijo que se espera é dor. E esperar um beijo é não ser livre.

 

Rock&Rolla 2025

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