“A Última Fronteira” de André Carvalho Ramos

“A Última Fronteira” de André Carvalho Ramos

Revi o “A Última Fronteira” no final do ano passado. Sabia que ainda iria demorar a chegar às livrarias e tive de conter a minha vontade de elogiar publicamente este relato de corpo presente sobre um dos maiores flagelos com que andamos a compactuar há demasiado tempo. Algo de muito grave se passa quando deixamos pessoas a morrer abandonadas em “campos de acolhimento” que não passam de prisões a céu aberto, debaixo de chuva, de neve ou de calor extremo.

São milhares e milhares de seres humanos que fizeram (e continuam a fazer) a travessia que os salvará. Porque mesmo que morram, ficam a salvo do sofrimento. Qualquer coisa será melhor do que o inferno de onde partem. Ou talvez não. Talvez o pior ainda esteja para vir. E talvez fique exatamente nessa meta dourada a que chamam Europa. Enquanto tentarmos travar o fluxo em vez de encarar a origem do problema, não deixaremos de ser cúmplices nesta tragédia.

“A Última Fronteira” é o avesso da realidade ocidental, é o nosso lado mais negro que nos chega em retratos tão bem caracterizados que acabamos por sentir que conhecemos, que ficamos amigos e que partilhamos a dor de cada um dos seus intervenientes. Nunca mais tive acesso ao livro, mas sou incapaz de esquecer o Omar. Sou incapaz de esquecer que as fonteiras que nos “protegem”, invisíveis para a maior parte de nós, são bocados de terra batida a que outros chamam casa.

Um livro intenso, onde a humanidade se define nos pormenores. Um livro que merece ser lido.

 

Teresa Rolla