“Maus Hábitos” de Alana S. Portero

Maus Hábitos

Dizem muitas vezes que não conseguimos compreender o que é ser “trans”, que quem não lida na primeira pessoa com esta realidade não sabe do que fala.

E quem melhor do que um livro, escrito pela mão de uma transsexual, para nos elucidar sobre o que é a experiência de viver no corpo errado?

Alana S. Portero é medievalista, poeta, dramaturga e ativista LGBT. Nasceu homem, mas aos 5 anos já sabia que era uma menina – que gostava de vestidos e de maquilhagem, dos batons e das conversas das mulheres mais velhas, que trancar-se na casa de banho para imitar a Beyoncé em frente ao espelho era o seu passatempo preferido e que alguma coisa estava errada quando via o seu reflexo nele.

Em “Maus Hábitos” conta-nos como foi crescer num bairro operário na Madrid dos anos ’80. O flagelo da heroína que acompanha a marginalização e a pobreza no roubo da dignidade. A solidariedade entre vizinhos que se intercala com a violência e os maus-tratos que acontecem dentro de portas, onde ninguém se acha no direito de intervir. A violência de género, o armário, os espaços seguros e clandestinos reservados aos que não encaixam, a pele que se muda em casas de banho de cafés, as travessias a pé das madrugadas de Madrid onde se despem e se vestem as sombras.

“Maus Hábitos” é o caminho da descoberta, contado na primeira pessoa, sobre uma realidade que ultrapassa o que achamos saber sobre o ser humano que cada um é.

Traduzido em mais de 20 línguas, o livro editado em português pela Alfaguara, tem tido um sucesso internacional que reconhece a literatura como portadora de mundos outros para que os possamos conceber.

“Maus Hábitos” obriga-nos a olhar para um lugar desconhecido, cheio de ignorâncias que não se reconhecem porque nem sabemos que existem.

Segundo Alana S. Portero, “sim, estamos longe da meta, mas nunca estivemos mais perto antes. A mudança para melhor é inegável, mas ainda não está concluída.”

Um livro enriquecedor que todos deveríamos ler para ficarmos mais próximos daquilo que desconhecemos. 💡

Teresa Rolla, 24